WLTP vs NEDC: Diferenças, Consumos e Impostos em 2025

published on 22 September 2025

Se pensa importar um carro para Portugal ou quer perceber melhor como funcionam os impostos automóveis, há um tema que não pode ignorar: as diferenças entre WLTP e NEDC.

Estes dois ciclos de testes são responsáveis por medir o consumo de combustível e as emissões de CO2 dos automóveis, números que servem de base para calcular impostos como o ISV e o IUC.

À primeira vista pode parecer apenas um detalhe técnico, mas a verdade é que o tipo de homologação utilizado pode fazer variar — e muito — o valor a pagar em impostos ou até a forma como compara modelos no mercado europeu.

Durante décadas, o NEDC (New European Driving Cycle) foi o método de referência na União Europeia. No entanto, por ser considerado pouco realista, acabou substituído em 2017 pelo WLTP (Worldwide Harmonised Light Vehicles Test Procedure), um sistema mais rigoroso e próximo da condução do dia a dia.

Desde a entrada em vigor do WLTP, os valores oficiais de consumo e emissões registaram aumentos médios de 20 a 25% face ao NEDC, refletindo de forma mais fiel a utilização real dos veículos.




O Que é o NEDC?

Origem e História

O NEDC (New European Driving Cycle) foi criado nos anos 1980 e adotado oficialmente em 1992 como referência europeia para homologação de veículos ligeiros. O objetivo era padronizar como os fabricantes testavam os seus carros em laboratório, permitindo comparar modelos uniformemente em toda a União Europeia.

Durante muitos anos, este ciclo serviu de base para definir os valores oficiais de emissões de CO2 e consumo de combustível, sendo esses mesmos valores utilizados nos cálculos de impostos em diversos países, incluindo Portugal.


Estrutura do Ciclo NEDC

O NEDC tinha uma duração total de cerca de 20 minutos e abrangia apenas 11 quilómetros. O teste estava dividido em duas fases:

  • Urbana: simulava paragens e arranques em cidade.
  • Extra-urbana: representava trajetos em estrada a velocidades moderadas.

As condições eram pouco exigentes:

  • Velocidade média de apenas 34km/h.
  • Velocidade máxima limitada a 120km/h.
  • Condução em acelerações suaves, sem considerar o peso adicional de passageiros, carga ou equipamentos opcionais.

Limitações e Críticas

Com o passar do tempo, o NEDC começou a ser amplamente criticado por ser pouco realista. Na prática, os consumos obtidos em estrada podiam ser até 40% superiores aos declarados em homologação. Isto acontecia porque:

  • Os percursos eram curtos e pouco representativos da condução atual.
  • As velocidades eram reduzidas e não simulavam autoestradas.
  • Não se consideravam fatores como peso, aerodinâmica e opcionais.

A pressão de organizações ambientais, consumidores e da própria Comissão Europeia levou à criação de um novo método: o WLTP.




O que é o WLTP?

Contexto e Criação

O WLTP (Worldwide Harmonised Light Vehicles Test Procedure) foi desenvolvido pela UNECE (Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa) e adotado pela União Europeia a partir de setembro de 2017.

O objetivo foi claro: criar um ciclo de ensaio mais realista e globalmente harmonizado, aproximando os valores de homologação daquilo que os condutores encontram no dia a dia.


Estrutura do Ciclo WLTP

O WLTP é significativamente mais exigente que o NEDC:

  • Duração total de cerca de 30 minutos.
  • Distância percorrida de 23,25km (mais do dobro do NEDC).
  • Velocidade média de 46,5km/h.
  • Velocidade máxima de 131km/h.
  • Quatro fases distintas: baixa, média, alta e extra-alta velocidade.

Além disso, o WLTP introduziu variáveis fundamentais:

  • Considera o peso real do veículo, incluindo opcionais.
  • Avalia a resistência aerodinâmica.
  • Reproduz acelerações e travagens mais próximas da condução moderna.


Diferenças Técnicas Face ao NEDC


Linha Temporal da Transição do NEDC para o WLTP

A passagem do NEDC para o WLTP não aconteceu de um dia para o outro. Foi feita gradualmente, para permitir que os fabricantes de automóveis se adaptassem às novas regras de homologação.

  • 1 de setembro de 2017: o WLTP tornou-se obrigatório para todos os novos tipos de veículos lançados na União Europeia.
  • 1 de setembro de 2018: a regra passou a aplicar-se a todos os veículos novos vendidos na UE, sem exceções.
  • 1 de setembro de 2019: terminou a fase de tolerância para os modelos considerados de “fim de série”.
  • 1 de janeiro de 2021: o WLTP tornou-se o único ciclo válido para verificação do cumprimento das metas de emissões definidas pela União Europeia.

Durante este período de transição, a Comissão Europeia recorreu ao software CO₂MPAS (desenvolvido pelo Joint Research Centre) para converter valores entre NEDC e WLTP, garantindo comparações justas enquanto coexistiam ambos os métodos.




Impacto Prático nos Valores de Consumo e CO2

Comparação dos Resultados Médios

Na prática, os valores medidos em WLTP são, em média, 21% superiores aos registados em NEDC. Por exemplo, um carro que apresentava 120g CO2/km em NEDC pode passar para 145g/km em WLTP.

Segundo a Agência Europeia do Ambiente (EEA), a média da frota de veículos novos vendidos na União Europeia em 2023 foi de 106,4g CO2/km (WLTP), mostrando como este método já está consolidado como referência oficial.


Diferença Para o Consumidor Final

Para os condutores, a principal mudança foi perceber que os carros consomem mais combustível do que o prometido nos testes antigos.

Estudos oficiais revelam:

  • Gasolina: consumo real ~23,7% acima do WLTP.
  • Gasóleo: ~18,1% acima.
  • Híbridos plug-in (PHEV): podem consumir até 3,5 vezes acima do valor declarado.


Caso Particular dos Híbridos Plug-in (PHEV)

Os PHEV são o exemplo mais evidente da diferença entre laboratório e realidade.

Nos testes WLTP, assume-se que o carro é conduzido com a bateria totalmente carregada, fazendo os consumos parecerem muito baixos. Mas, no dia a dia, se o condutor não carregar o veículo com frequência, o motor a combustão passa a assumir a maioria das deslocações — e o consumo dispara.


Autonomia e Consumos Reais em Elétricos

O WLTP também é aplicado a veículos 100% elétricos.

Em média, as autonomias declaradas em WLTP são 20 a 30% inferiores às medidas no antigo NEDC, representando uma estimativa mais próxima da realidade. Ainda assim, fatores como peso do veículo, estilo de condução ou condições de estrada continuam a influenciar significativamente a autonomia real.




Implicações Fiscais em Portugal

ISV (Imposto Sobre Veículos)

O ISV em Portugal é calculado com base na cilindrada e nas emissões de CO2. No caso dos veículos importados, o valor considerado vem sempre do Certificado de Conformidade (COC):

  • Campo 49.1: corresponde ao valor medido em NEDC.
  • Campo 49.4: corresponde ao valor medido em WLTP.

Para veículos mais recentes (produzidos após 2019), praticamente só aparecem os valores WLTP, que tendem a ser mais elevados e, por isso, aumentam o imposto a pagar.


IUC (Imposto Único de Circulação)

O IUC também usa os valores de emissões indicados no COC. 

Exemplo concreto: veículos da categoria B utilizados como táxi/TVDE são isentos se tiverem emissões de ≤180g/km NEDC ou ≤205g/km WLTP.

Isto mostra como a diferença entre NEDC e WLTP pode ter impacto direto no escalão de imposto e, em alguns casos, até determinar se um carro fica isento ou não.




Os Testes RDE e a Realidade das Emissões em Estrada

Além do WLTP, a União Europeia introduziu os RDE (Real Driving Emissions) — testes feitos em estrada real, com trânsito, variações de clima e condições de utilização diária.

O objetivo é simples: colmatar as limitações dos ensaios de laboratório e garantir que os veículos cumprem os limites legais de emissões, não apenas em condições ideais.

  • O RDE mede poluentes como NOx e partículas finas.
  • É especialmente importante para veículos a gasóleo e híbridos plug-in, onde as discrepâncias entre teste e condução real podem ser maiores.
  • Embora não substitua o WLTP, o RDE funciona como um complemento essencial, trazendo maior transparência para consumidores e reguladores.




Contexto internacional: Como Diferentes Países Medem Consumos e Emissões

Na União Europeia, todos os veículos ligeiros são homologados segundo o WLTP, método obrigatório desde 2017.

Nos Estados Unidos, o processo é diferente: utiliza-se o protocolo EPA, que inclui os ciclos FTP-75 (urbano) e HWFET (autoestrada). Estes testes costumam ser mais exigentes em condução a alta velocidade, o que faz com que os consumos declarados difiram dos europeus.

No Japão, ainda é usado o ciclo JC08, conhecido por ser menos realista e otimista nos consumos. No entanto, o país começou a adotar o WLTC (Worldwide harmonized Light vehicles Test Cycle), uma versão adaptada do WLTP europeu, para se aproximar das normas internacionais.

Na prática, isto significa que o mesmo carro pode apresentar valores oficiais distintos de consumo e emissões, dependendo do mercado onde é vendido e do protocolo de testes aplicado.




Efeitos no Mercado Automóvel e no Consumidor

Para Fabricantes

A entrada em vigor do WLTP obrigou os fabricantes de automóveis a investir em novas tecnologias e motores mais eficientes.

A União Europeia estabeleceu metas rigorosas de emissões médias para a frota de cada marca, aplicando multas pesadas às empresas que não cumprem esses limites. Este cenário acelerou a transição para carros híbridos e elétricos, forçando a indústria a inovar mais rapidamente.


Para Consumidores

Para quem compra um carro, o WLTP trouxe mais transparência nos valores de consumo e emissões, permitindo uma comparação mais realista entre modelos.

No entanto, essa maior precisão também teve um efeito direto nos impostos: em muitos casos, os valores de ISV e IUC aumentaram, já que os consumos e emissões declarados são mais altos do que no antigo NEDC.


Para Importadores de Usados

Entre 2017 e 2019, coexistiram homologações em NEDC e WLTP, gerando dúvidas até hoje no mercado de importação.

Para quem pretende importar um carro usado para Portugal, é fundamental verificar no Certificado de Conformidade (COC) se o valor registado corresponde ao NEDC ou ao WLTP. Isso porque esse dado pode determinar em que escalão de imposto o veículo vai cair, influenciando diretamente o custo final.




Conclusão: Impacto do WLTP face ao NEDC em Consumos, Emissões e Impostos

A substituição do NEDC pelo WLTP marcou uma viragem fundamental na forma como a Europa avalia consumos e emissões de veículos. O NEDC, demasiado simplificado e afastado da realidade, deixou de ser fiável para consumidores, reguladores e fabricantes. O WLTP, por sua vez, trouxe valores mais próximos da utilização real, permitindo decisões mais conscientes e reforçando a credibilidade dos números oficiais.

Na prática, esta mudança teve efeitos claros:

  • Fabricantes tiveram de investir em tecnologia mais eficiente para cumprir as metas ambientais da União Europeia.
  • Consumidores ganharam transparência, mas enfrentam valores de ISV e IUC mais elevados, uma vez que os números WLTP são, em média, 20 a 25% superiores aos do NEDC.
  • Importadores de usados passaram a ter de confirmar cuidadosamente qual o ciclo indicado no Certificado de Conformidade (COC), já que disso pode depender o escalão de imposto e, em muitos casos, diferenças de centenas ou milhares de euros.

Em Portugal, o impacto é direto: tanto o ISV como o IUC são calculados com base nos valores constantes do COC, e desde 2019 praticamente só aparecem medições WLTP. Ou seja, quem importa ou compra um carro precisa considerar esta realidade para não ser surpreendido com custos adicionais.

A boa notícia é que não precisa de dominar estes detalhes técnicos sozinho. Na Importrust, tratamos de todo o processo de importação e asseguramos que o carro chega a Portugal com os impostos certos e sem surpresas desagradáveis.








Perguntas Frequentes sobre o WLTP e o NEDC

1. Qual é a diferença entre WLTP e NEDC nos consumos e emissões de CO2?

Os testes WLTP são mais longos, com velocidades mais altas e condições mais próximas da condução real. Por isso, os valores WLTP são, em média, 20 a 25% superiores aos do NEDC.


2. O que é o CO₂MPAS e porque foi criado?

O CO₂MPAS é um software desenvolvido pelo Joint Research Centre da Comissão Europeia para converter valores NEDC em WLTP durante a fase de transição (2017–2019), garantindo comparações justas.


3. Porque é que o consumo real de combustível pode ser maior do que o declarado em WLTP?

O WLTP é mais realista que o NEDC, mas continua a ser um teste de laboratório. Em estrada, fatores como estilo de condução, trânsito, peso e temperatura fazem com que o consumo real seja cerca de 18 a 24% superior ao declarado.


4. Qual é a diferença entre o ciclo WLTC e o procedimento WLTP?

O WLTC (Worldwide harmonized Light‑duty Test Cycle) refere-se aos ciclos de condução específicos (quatro fases: baixa, média, alta, extra‑alta) usados para medir consumos e emissões. Já o WLTP (Worldwide harmonised Light Vehicles Test Procedure) é o conjunto completo de regras de homologação que incorpora os WLTC e estabelece como devem ser realizadas as medições.


5. Desde quando o dispositivo OBFCM (On-Board Fuel Consumption Monitoring) é obrigatório nos carros na UE?

O OBFCM, dispositivo de monitorização de consumo de combustível e/ou energia elétrica, tornou-se obrigatório para veículos ligeiros novos na União Europeia a partir de 2021, conforme estabelecido pelo Regulamento (UE) 2018/1832.


6. Como são definidas as classes de veículos (PMR) no WLTC?

Os ciclos WLTC são adaptados a classes de veículos segundo o power-to-mass ratio (PMR) — a relação entre potência do motor e peso do veículo:

  • Classe 1: PMR ≤ 22 kW/t — veículos de baixa potência.
  • Classe 2: 22 < PMR ≤ 34 kW/t.
  • Classe 3: PMR > 34 kW/t — veículos mais potentes, dominantes na Europa, Japão e EUA.


7. O mesmo carro pode ter consumos e emissões diferentes em países distintos?

Sim. Na União Europeia aplica-se o WLTP, mas nos Estados Unidos usa-se o protocolo EPA (ciclos FTP-75 e HWFET), e no Japão ainda existe o ciclo JC08, embora o país já esteja a adotar o WLTC (versão adaptada do WLTP). Isto faz com que o mesmo carro apresente valores oficiais diferentes consoante o mercado.







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